A confirmação da ocorrência de tornados no Brasil é um desafio. Na maioria das ocasiões, as únicas informações são fotos de danos compartilhadas pela população, as quais são geralmente insuficientes para confirmar a ocorrência de tornado. Isso se deve ao fato de que ventos intensos não-tornádicos também podem causar danos significativos. Algumas características de danos comumente utilizadas como “assinaturas” de tornados, como árvores decepadas, também podem ser causadas por ventos não-tornádicos. Portanto, é necessário cautela na classificação de tornados quando a única fonte de informações são fotos dos danos.
Nesses casos, é necessário recorrer a outras fontes de dados. Imagens de satélites ambientais e drones podem indicar convergência ou divergência do vento e a presença de uma faixa estreita de danos. Radares meteorológicos polarimétricos, quando bem calibrados e próximos o suficiente da tempestade que causou o tornado, também podem ser utilizados na confirmação. Como no Brasil não há um grupo especializado que faça visitas aos locais atingidos para analisar os danos, a confirmação da ocorrência de tornados pode levar dias até que sejam disponibilizadas imagens de satélite e informações adicionais.
O nosso banco de dados preza pela qualidade dos dados. Tornados são confirmados apenas quando há incontestáveis evidências da ocorrência deste tipo de fenômeno. Por isso, recomendamos cautela da mídia, órgãos de meteorologia, defesas civis e comunidade meteorólogica na confirmação da ocorrência de tornados. É urgente que órgãos regionais e defesas civis se organizem para fazer análises qualificadas e rigorosas de situações com suspeita de tornados. A implementação dessa prática traria inúmeros benefícios para melhorar a documentação, pesquisa, previsão, e os avisos e alertas de tornados no país.
Quanto às recentes suspeitas de tornados entre os dias 15 e 19 de novembro, na maioria dos casos não foi possível confirmar a ocorrência de tornados por falta de evidências. Entretanto, foi possível confirmar, através de imagens de satélite ambiental, padrões de divergência do vento nos danos a estruturas e vegetação nos municípios de Itá/SC, Seara/SC, Paial/SC, Giruá/RS. O padrão divergente é causado por correntes descendentes, algumas vezes acompanhadas por granizo, e não por tornado.