Na noite do dia 11 e madrugada do dia 12 de junho de 2018, alguns tornados ocorreram no norte do RS. No RS, os municípios de Ciríaco, Coxilha, Água Santa, Vila Lângaro, Sarandi, entre outros, registraram danos por tornados. A Figura 1 (abaixo) mostra os registros de tempo severo entre 1200 UTC (09:00h) do dia 11 e 1200 UTC (09:00h) do dia 12 de junho de 2018. O grande número de registros de tornado se deve ao fato de que vários pontos tiveram danos por tornados verificados por satélite ambiental (como cicatrizes na vegetação), mas não reflete o número de tornados.
De acordo com o mapa, houve 3 areas com tornados neste evento. O primeiro (1 na Figura 1) foi um tornado filmado em Chiapetta, RS, na tarde do dia 11. Este tornado aparentemente não causou danos significativos. A área 2 na figura reflete um aglomerado de danos causados por tornados e evidentes por satélite ambiental. Estes danos ocorreram em Sarandi, Pontão, Ronda Alta, Sertão e Rondinha, RS, em torno de 2310 UTC (20:10h) do dia 11 e são resultado de mais de um tornado, embora o número seja difícil de precisar sem uma análise em campo por especialistas. Alguns destes dados são compatíveis com registros de destelhamentos em algumas construções no interior destes municípios. As tempestades que causaram tornados nesta área também causaram granizo de 5 cm no interior de Sarandi.
O terceiro grupo de registros de tornado ocorreu nos municípios de Ciríaco, Coxilha, Vila Lângaro, Água Santa, RS. Em alguns pontos, como no interior de Coxilha, houve danos compatíveis com um tornado intenso, embora a intensidade exata seja difícil de estimar sem uma visita ao local logo após o evento. Apesar da incerteza na intensidade, este foi um dos tornados mais intensos nos últimos anos no RS. É provável que mais de um tornado tenha ocorrido na região.
A reanálise ERA-5 é utilizada para analisar o ambiente. Em 500 hPa (Figura 2), um intenso cavado atravessava os Andes e favorecia escoamento de noroeste de 25-30 m/s sobre o Sul do Brasil. Em 850 hPa (Figura 3), o escoamento de noroeste associado ao jato de baixos níveis era bastante intenso (> 20 m/s) e associado a advecção quente sobre o norte do RS. Essas condiçōes favoreceram intenso levantamento sinótico sobre a região.
Em termos de instabilidade termodinâmica (Figura 4), o CAPE da parcela mais instável indicava valores > 1000 J/kg sobre o norte do RS, suficientes para a formação de tempestades intensas. Além disso, o cisalhamento entre 0 e 6 km de altura era maior que 20 m/s na região, o que suporta tempestades organizadas, incluindo supercélulas.
A sondagem (da reanálise) próxima de Coxilha-RS às 0000 UTC do dia 12 (21:00h do dia 11), poucas horas antes dos tornados, indica um ambiente muito favorável para tempestades severas, com MLCAPE de 1472 J/kg e cisalhamento efetivo de 19 m/s. Além diss, o vento em baixos níveis muito intenso (> 25 m/s em 1 km de altura) favoreceu intensa helicidade relativa à tempestade (-208 m2/s2 entre 0 e 1 km acima do solo). Neste ambiente, tempestades que se mantêm discretas (isoladas das demais) têm potencial de se tornar supercélulas e gerar tornados. O Parâmetro de Tornado Significativo (STP) era de 2, sendo que 1 é considerado favorável a tornados.
Tornados não são raros no sul do Brasil no inverno (junho, julho e agosto). Exemplos recentes incluem os casos de 10 de junho, 30 de junho e 14 de agosto de 2020, além de 22 de junho de 2022.